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9 de setembro de 2012

Sutileza de um momento, Siena.

A certos momentos do dia recordo tudo isto e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta entrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta sociedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canária.
Passagem das Horas, Álvaro de Campos

Para mim este foi um dos momentos mais lindos desta viagem, no qual tive a experiência de pôr-do-sol mais incrível da minha vida, porém está sendo muito difícil escrever nestes últimos dias e peço ajuda a meu querido Fernando Pessoa, que transmite com tanta sutileza e poesia todos os momentos de sua vida, desde os mais obscuros até os mais singelos. Eu aprecio o modo como escreve e entendo o sentimento de cada linha. É complicado dizer o porquê, eu sinto muitas saudades de tudo e as lembranças vão transbordando a cada segundo me fazendo sentir nostálgica e por vezes completa, porém neste mesmo tempo é difícil traduzir em palavras todos este turbilhão de sentimentos e mudanças. Não que isto seja uma obrigação de se fazer, mas gosto de passar para frente minhas experiências e mesmo assim, me agrada escrever sobre o tempo.
Chegamos em Siena na hora mais interessante do dia, a hora que mais gosto, o momento em que mais uma vez o dia vai indo embora, nos lembrando de que o tempo passa e que a noite chega, indo devagar e abaixando a graduação de luz que ilumina a terra. O lugar não descrevo com palavras, mas é só imaginar uma vila na Toscana de filmes, onde se tem uma casa enorme feita de pedra amarelada com janelas e portas de madeira, um lindo jardim na frente, pomar de pera, pêssego, ameixa e outras frutinhas que tivemos o prazer de comer direto do pé, uma alameda de árvores e uma vista incrível da cidade (é a casa que quero morar). De lá era possível ver a perfeita silhueta de Siena e os últimos raios de luz batendo no mato amarelo que o fazia reluzir como ouro. As luzes da cidade iam ascendendo aos poucos mostrando que a cidade ainda no domingo ainda respirava e nós quatro ali, no meio do mundo, sentindo cada pedacinho de vida que existe, sentindo a brisa fresca no rosto que trazia consigo um doce odor de relva, vendo o sol se despedir e sentindo uma pequena plenitude do ser. Ali ficamos quase duas horas, admirando a paisagem, trocando energias, trocando palavras e absorvendo cada segundo deste momento único que ia passando aos poucos sem nosso consentimento.
Foi especial, único, belo e por isso merece um post unicamente para ele. As fotos foram poucas, mas como o momento foi eternamente gigantesco, poucas imagens conseguem mostrar uma ponta do que foi/é.












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